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A minha e a nossa religião
Faço parte dos que nasceram católicos. Não escolhi. Escolheram para mim. Batizaram-me católico. Meus pais e padrinhos prometeram que me educariam nesta Igreja. Cresci acreditando ingenuamente. E não me envergonho disso. Quem disse que religião não tem sua dose de ingenuidade?
Aprendi na minha Igreja muita coisa boa e muita coisa que depois tive que repensar, à medida que avançava em meus estudos bíblicos. Mas, pelo tempo e pela idade que eu tinha, valeu.
Não existem religiões perfeitas, nem catequese perfeita. Somos seres humanos que erram. Por mais que Deus nos guie e ilumine, nem sempre o entendemos. Profetas santos e sinceros mandaram matar gente em nome de Deus. Não entenderam! Minha catequista ensinou o que sabia e como sabia. Mas ela não conhecia os livros que eu vim a conhecer. Valeu o que aprendi com ela. Depois tive que ouvir os outros. Não podia permanecer a vida inteira com o que ela me ensinou. Os padres daquele tempo também acreditavam naquilo que diziam.
Depois minha Igreja passou por uma enorme transformação e correu os riscos de mudar. Aceitou a crise e o conflito, avançou e recuou, e continua avançando aqui e recuando ali. Não é tudo como eu quero, mas é a Igreja que eu amo. Experimentou o Concílio Vaticano II, inspiração do Papa João XXIII. Na América Latina, passou por mudanças e conflitos enormes, mas saiu das Conferências de Medellín (l967), Puebla (l981) e Santo Domingo (l992) com a intenção de se atualizar e traduzir para a nossa realidade o conteúdo da Bíblia, do Concílio e da Igreja Católica Universal.
Agora, no Brasil há uma Igreja Pentecostal que se chama Igreja Universal do Reino de Deus. Tem uns trinta anos. Seu líder ainda vive. A minha já é universal há séculos. “Católica” quer dizer exatamente isso: “para todos”. Vejo pessoas magoadas e feridas criticando o catolicismo. Às vezes, sem amor algum. Padres e freiras se queixando da sua Igreja. Gente irada, ressentida, porque seu lado e sua pastoral perderam.
Vejo o triunfalismo de um lado e a desesperança de outro. Seminaristas que vão embora porque não acreditam neste modelo de Igreja. Padres que saíram, claramente em desencanto com o modelo de Igreja que venceu na sua diocese ou congregação religiosa. Leigos desencantados mudando de religião ou abandonando tudo ou por excesso de política ou por falta de política, ou por excesso de presença ou falta de presença, ou por excesso de doutrinação ou por falta de doutrina, ou por excesso de ideias e falta de ações concretas.
Eu fico porque creio, porque sei que isso vai passar. E que eu vou passar também. Quando eu era pequeno escolheram para mim uma Igreja porque me amavam. Agora eu escolho e fico porque amo. Gosto de minha Igreja e é nela que desejo viver e morrer. Acho que ela tem doutrina e riqueza espiritual suficiente para me ajudar e para ajudar meu povo. Não me importo com o que outros pregadores dizem. Eu também sou pregador e este país é livre. Eles falam de lá o que dizem ser suas luzes e suas verdades e eu falo de cá o que acho que é luz e verdade. Deus sabe quem de nós está certo. Gritar mais alto não torna algo mais verdadeiro. Saber atrair multidão não faz um time campeão. Quem vence este ano pode perder no ano que vem ou por muitos anos. Marketing só traz mais gente, não traz mais verdade!
Por isso, não mudo. Não estou procurando uma religião perfeita. Estou procurando uma religião que responda o que sabe e, quando não sabe, admita que não sabe. Ultimamente a Igreja Católica admite que não tem todas as respostas para a dor humana. Busca as essenciais e não promete milagres com data e hora certa para ninguém. Isso é delicioso. Faço parte de uma religião que admite que perdeu muitos fiéis nos últimos anos e aceita reaprender.
É a minha Igreja. Católica, Apostólica e Romana. Eu fico! Sereno e feliz, porque acho que vale a pena. Continuo achando que minha Igreja é mãe, mestra e guardiã da verdade. Se outras Igrejas acharem isso de si mesmas, ótimo para elas! Então a verdade estará mais bem guardada ainda. Mas eu fico no colo que me embalou!
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