Ao bonito do coração da juventude

Tenho dito aos pais e aos filhos quando lhes falo de liberdade...

Não ameace jamais a liberdade de um rio.
Ele crescerá e o destruirá.
Se você o respeitar,
provavelmente ele também o respeitará.

Não ameace nunca a liberdade de uma pessoa jovem.
Ela acabará concluindo que você não a respeita.

As pessoas jovens precisam da liberdade
como precisam do ar que respiram.
Se lhes tiramos a liberdade sentem-se sufocadas.
Mas liberdade tem limites, assim como o riacho os tem.

Os jovens admitem portas fechadas,
desde que entendam por que aquela não é ainda a saída.
Mas, se concluírem que você nunca lhes deixará nenhuma saída,
perderão a paz e o respeito que ainda sentiam e nutriam por você.

Oriente e proíba, mas não cometa nunca o erro
de proibir sempre ou quase sempre.
Melhor correr o risco, do que vigiar,
prevenir ou proteger demais.

Também os pais precisam sentir-se livres.
Filhos tiranos são piores do que pais confusos.
Tais filhos sabem o que querem: ferir os pais.

Toda liberdade é relativa. Não existe liberdade total.
Sem liberdade relativa, ou a pessoa jovem
perde o interesse pelo que há lá fora,
ou arranha a sociedade e vai à luta
pelo direito de ir buscar a sua vida.

Mas se pais e sociedade não reagem
quando os jovens passam dos limites,
como riacho sujo eles emporcalham a cidade inteira.

Se uma pessoa jovem que o amava muito deixa de amar e de confiar,
procure saber qual o grau de sua culpa.
Se tiver que pedir perdão, peça!
Talvez, na generosidade dela e do que restou de bom, ela readmita você.
Mas tem que haver portas abertas. Solte. Deixe ir.
Uma, duas, três, cinco vezes você pode fechar os portões.
Mas chegará o dia em que você simplesmente
terá que dar as chaves ao filho e dizer:
“Confio! Vai com Deus e volte sempre”.

Naquele dia verá um rosto feliz à sua frente.
Provavelmente terá ganhado você também a sua liberdade.
É impossível prender um filho para sempre.
Mas há o outro lado da moeda:
filho que vai embora dos pais para sempre
cortou mais do que o cordão umbilical.
Um dos elos se perdeu.

Amar demais é amar errado. Amar de menos, também!
Mesmo que seja o amor mais bonito, paterno e platônico da terra
ninguém aceita amor demais.
Mesmo que pareça liberdade, ninguém aceita amor de menos.
Aconchego demais é prisão! Indiferença também!