Da procura à promessa

No dia do noivado de Henrique e Melissa

H

enrique e Melissa,

Vocês solicitaram que eu presidisse sua missa de promessa de vida a dois. É seu dia de noivado. Daqui a um ano, data já marcada, se darão em sacramento e, católicos que desejam ser, se consagrarão um ao outro e ambos a Deus na família que formarão. Mas agora decidiram celebrar também a promessa.

“Consagrar-se” é o verbo. O padre, o diácono, o religioso, a religiosa, o casal e o solteiro engajado na fé consagram-se. Sua vida deixa de ser procura porque entendem que acharam. Torna-se, então, consagração e entrega a uma pessoa, e com ela a uma comunidade, a uma ordem ou congregação, a um movimento de espiritualidade, àlguma mística e nelas à Igreja. Não é diferente o noivado ou o casamento. A procura terminou e agora procurarão juntos, e se entregarão um ao outro e ambos à família e a família ao Cristo, na Igreja.

Se cremos que Deus esteve aqui há dois mil anos, temos que definir nossas procuras, nossos encontros e nossas entregas e acolhimentos em função desta verdade. Ele fez isso e nós faremos por ele, com ele e nele. Aí reside a essência do noivado e do casamento cristão.

Uma menina e um rapaz, cada qual no seu mundo adolescente, procuram afetos além dos afetos do seu lar. Estabelecem amizades, procuram aceitar e ser aceitos, enturmam-se, ousam, desafiam, segredam, maliciam, comentam a beleza masculina ou feminina, notam e querem ser notados. Mas sabem eles que é a procura que começou. Não percebem, mas estão procurando alguém. Mas é procura que não se foca numa pessoa especial. Contudo, já são os pequenos esboços e contornos da alma do homem ou da mulher que um dia quererão ao seu lado.

Encontram muitos rapazes e muitas meninas que agradam os olhos, agradam pela fala, pela amizade e pelas brincadeiras, mas não correspondem ainda ao esboço que a alma traçou.

Um dia acontece o encontro que nasce de pequenos encontros. É ele! É ela! Não tem exatamente o corpo e o rosto que imaginaram, mas tem o perfil. Com ele, ela se imagina vivendo para sempre e construindo uma família. Por ela, ele entende que vale a pena viver uma vida inteira. A liberdade já não é tudo na vida: o amor, sim! Haverá sim e não, haverá pequenos desentendimentos, haverá ajustes a serem feitos, mas não há dúvida, a pessoa que ele e ela procuravam tornou-se um alguém especial, com traços definidos. O coração o reconheceu: chamavam-se Henrique e Melissa.

Depois disso, bah! sorry! eitcha! siento mucho! lo siento, mas adeus Cristina, bye bye Josh, adiós Milena, adiós Pablito... Um rapaz e uma moça acharam a pessoa dos seus sonhos e esta pessoa não era nenhum de vocês. A procura terminou, pintou a certeza, veio o namoro, a promessa de entrega e a entrega. Agora Alex não é mais apenas de si mesmo, nem Mariana é totalmente dona de si. Querem a entrega, recebem e se dão. E a Igreja tem mais um lar cristão.

Foi o caso de vocês, Henrique e Melissa. Por um ano viverão a consagração do noivado que é seu noviciado para a vida a dois. No dia 25 de novembro se consagrarão definitivamente como marido e mulher. Mas querem que o noviciado seja também abençoado na comunhão eucarística. E pedem que eu presida esta promessa.

Aceito a incumbência. Sairão daqui noivos. Querem que amigos, parentes e quem mais aparecer no seu círculo de amizades saibam que, de agora em diante, Melissa se compromete com Henrique e Henrique com Melissa. Está em curso a construção espiritual de mais um lar cristão católico.

Tomaram a decisão certa, decisão cristã, decisão católica. Amar-se é consagrar-se pelo tempo que restar aqui, em função da eternidade que virá, porque amor, se for amor, jamais acabará! Não é isso que do Matrimônio faz um sacramento?