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    • Juventude: crises, cruzes e luzes – José Fernandes de Oliveira
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Apresentação

Jovens diante do profano! Jovens diante do sagrado! Perplexos diante do profano! Perplexos diante do sagrado! Corações feridos e corações sarados!... Se não entendermos os valores da mudança, da transição e da continuidade, nunca entenderemos a vida. Ela é feita de estímulos, convites, escolhas e inserções. Alguém tem que achar o seu lugar sem necessariamente tirar o lugar do outro. No mundo cabe muito mais gente, desde que ninguém seja espaçoso demais, a ponto de querer o seu lugar e o dos outros. As gerações se desentendem quando ignoram este princípio.

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Não existe apenas uma juventude. Há muitas juventudes e há muitas maneiras de viver esses primeiros anos da vida. Há quem saiba e há quem não saiba o que fazer com as flores e os frutos da primavera e do outono. Há quem os desperdice e há quem os armazene.

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No campo coberto de girassóis que, enfileirados, pareciam olhar todos na direção do sol, pensei na cena que vira dias antes: jovens olhando para o mar e para o sol que nascia, enquanto cantavam uma das muitas orações da manhã que meu povo canta.

Na outra praia, outro grupo de jovens fumava, bebia e saudava o mesmo sol e o mesmo mar. Seguiam outros mestres. A vida para eles tinha outro significado.

Os jovens me lembram girassóis abertos, voltados para a luz. Na sua maioria sonham com uma vida luminosa, com um futuro que, nos seus sonhos, ao menos para eles, no fim acabará dando certo.

Há os jovens pessimistas, mas são bem menos do que os sonhadores e idealistas. E é próprio dos jovens pensar que com eles o mundo será melhor. Ai de nós, se assim não fosse! A imensa maioria é otimista e acha que as coisas acabarão se ajustando. Por pior que seja o mundo e por mais chocante que seja a história, eles acreditam que com eles será diferente.

Sabem que nem sempre foi assim e nem sempre será assim; sabem que nem sempre tudo deu certo, estão vendo que nem tudo tem dado certo com o mundo, com seus pais, com seu país, com sua Igreja, com milhões de jovens da sua idade, mas, se perguntados sobre seu futuro, dirão que um dia vai dar certo. Esperam ser felizes nem que tenham que buscar a felicidade em outro lugar, longe de casa. É a história do filho pródigo. Esperam pelo melhor. Dará tudo certo com eles e um dia dará certo com seu povo, com o mundo e com outros da sua idade. Não esperam que tudo na vida seja 100% melhor, mas esperam que a vida seja melhor do que é hoje.

Teimosamente otimistas, eles ousam apostar no seu presente e no seu futuro. São poucos ou são maioria? Arrisco-me a dizer que são maioria. Não importa se são pobres ou ricos, se moram em casas de vidro fumê ou em condições precárias, se estão desempregados e se na sua casa nem tudo vai bem. Com eles, um dia, as coisas mudarão.

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Os jovens nunca foram e continuam não sendo protagonistas da história. Nem poderiam ser, porque não governam povos, nem Igrejas, nem dirigem grandes conglomerados; a mídia não está nas suas mãos. Eles não têm poder político nem econômico. Falta-lhes a experiência ou a malícia de quem lidera e comanda.

Mas no seu pequeno círculo, começam a dar os primeiros passos dos líderes que um dia serão. Desde que o mundo é mundo e desde que se começou a falar em História, mesmo quando jovens governaram aos 12 ou 18 anos, e quando alguns deles chegaram a ser papas ou líderes de religiões, ou reis e príncipes, o mundo mais falou aos jovens e dos jovens do que os ouviu ou os deixou falar.

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Por milhares de anos o jovem foi o personagem silencioso. Uns poucos conseguiram chamar a atenção do seu povo e do mundo antes dos 30 anos. Nem todo mundo era um Alexandre Magno. A maioria não teve editoras, nem emissoras, nem microfones, nem câmeras para registrar seus sonhos, suas ideias, suas canções, seus protestos. Falaram, passaram e ficou por isso mesmo. O número dos gênios e heróis jovens que governaram exércitos, povos, igrejas é pequeno. Mas houve gênios na música, na pintura, no teatro, na política, inventores, pensadores que se revelaram antes dos 20 anos, antes dos 25 e morreram aos 35. Ainda hoje, alguns se revelam geniais antes dos 30 anos, mas são minoria.

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O documento 93 dos Estudos da CNBB, nos nn. 84-87, lembra que em Puebla os bispos da América Latina fizeram duas opções preferenciais: uma pelos pobres e outra pelos jovens. Falando dos jovens e aos jovens, a Igreja afirma sua esperança neste segmento de humanidade. Embora haja ofertas cada dia maiores de conhecimentos, a sociedade não lhes dá os instrumentos necessários para processá-los. O acúmulo de informação e oportunidades nem sempre encontra o jovem suficientemente escolarizado e preparado para assumi-las. Jovens com recursos suficientes para entrar na idade adulta, com capacidade de prover seu próprio sustento, são minoria. A imensa maioria é um dos grupos mais vulneráveis da sociedade brasileira.

Tentados pelo capitalismo, por ideologias sem Deus, por religiões mágicas e imediatistas, por ideias de um Deus que resolverá seus problemas desde que eles sejam dóceis à orientação dos seus gurus; expostos diariamente e o dia inteiro à nudez, ao sexo sem compromisso; marcados por famílias desfeitas ou em crise, tentados pelo tráfico de entorpecentes e por grupos violentos; vítimas da rapidez das mudanças, tentados por segmentos irresponsáveis da mídia sensacionalista, milhões de jovens não vivem num contexto cristão. A proposta de seguir Jesus Cristo não os convence. E, em muitos casos, as Igrejas que poderiam lhes dar solidez oferecem uma redoma, na qual eles se refugiam. Viram mais pedintes do que agentes do Reino de Deus. Jesus Cristo os quer mais agentes do que pedintes. A fé deve formar agentes de transformação e não piedosos alienados em busca da salvação pessoal. Mas isso é aprendizado que dói.

Mais do que puxá-los para um templo, para uma Igreja ou para algum movimento onde supostamente falarão com Jesus e Jesus lhes falará, onde supostamente encontrarão Jesus Cristo, a Jornada Mundial da Juventude e as mais diversas Pastorais da Juventude, se forem sérias e comprometidas, mostrarão Jesus Cristo educador, lhes apresentarão o Jesus que se preocupava com o bem dos outros.

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Jesus não veio apenas nos ensinar a pedir perdão e misericórdia do céu. Veio ensinar a perdoar e usar de misericórdia aqui na terra. Não veio apenas repartir o pão, veio multiplicar as mãos que repartem o pão. Para isso existem cursos, mídia religiosa, revistas, livros, canções, teatro, presença de evangelizadores com conhecimentos de Pedagogia, Sociologia, Psicologia que em sucessivos encontros lhes proponham valores humanos, capacidade de ler o seu tempo, capacidade de relações e de reações serenas, menos individualismo, menos subjetivismo, mais conhecimento e interesse por questões sociais, questões políticas, menos hedonismo.

O hedonismo, do qual são vítimas por conta do excesso de liberdade nas ruas, nas praias, nas festas, nos meios de comunicação, a cada nova estatística vê crescer o que já era calamitoso em 2001, quando, por exemplo, dos 3,2 milhões de nascidos vivos 22,6%, ou seja, 695 mil eram de mães entre 15 e 19 anos. Pais e mães adolescentes, despreparados. Os jovens aprendem rapidamente a buscar os prazeres da vida, motivados pela mídia e por uma série de outras motivações; e eles aprendem mais lentamente a assimilar os deveres da vida. A sociedade lhes mostra e ensina por imagens escancaradas como explorar o próprio corpo e o corpo alheio, como fazer sexo, mas não como vivê-los, corpo e sexo, com todas as suas consequências.

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Mais precisamente a partir dos anos 1950 e marcadamente depois dos anos 1980, com a explosão da mídia, do cinema, do rádio, do LP, da televisão, do CD, do DVD, do computador e da internet, e tantos outros pequenos instrumentos de aproximação e de comunicação, nosso século deu voz aos jovens. Eles estão falando.

Os jovens se fizeram ouvir, ou alguém investiu neles porque havia bilhões de dólares em causa se as ideias, os sonhos, as canções, a rebeldia, os trajes, o comportamento deles e eles mesmos se tornassem produtos. E eles se tornaram produtos.

Explodiu a partir de l960 a indústria da idade. Os jovens vendiam e compravam. Havia mais dinheiro nas mãos dos jovens. Uma nova sociedade emergida do pós-guerra (1939-1945) e uma redivisão do mundo em dois polos a partir de 1948 transformaram os jovens do Ocidente em jovens consumistas e outra sociedade os transformara em jovens comunistas.

O ideal de possuir e o de influir tomou conta dos jovens do Ocidente e do Oriente. Capitalismo e Socialismo voltavam-se para os jovens porque eles, agora, faziam a diferença. Com eles se construiria uma nova sociedade ocidental, com eles se construiria uma nova sociedade oriental, uma nova sociedade capitalista e uma nova sociedade comunista. Eles movimentam as ruas, a mídia, a economia, as ideologias e, ultimamente, as Igrejas. Mesmo que não criassem, faziam circular ideias e mercadorias.

Cordas e teclados saíram das mãos de adultos e caíram nas mãos de milhões de jovens. Microfones e amplificadores agora gritavam vozes juvenis por toda a cidade e em todas as casas. Suas canções eram ouvidas por bilhões de ouvidos. E eram os jovens cantando a respeito de si mesmos e reunindo milhões. Eles não eram mais objetos da comunicação. Tinham se tornado sujeitos da comunicação. O mundo, que por milênios falou sobre os jovens e aos jovens, agora ouvia os jovens falarem sobre si mesmos a outros jovens, aos adultos.

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Talvez o mundo não tenha conhecido tantos jovens organizados, rompedores, questionadores e aproximadores como agora. Embora os jovens rompedores com o padrão sejam os que mais aparecem, a verdade é que os jovens sonhadores e aproximadores ainda são maioria. Mais do que sacudir o mundo eles querem ter amigos, pertencer. Mas aí estão os nomes de jovens personagens e seus cenários que, no seu tempo, para o bem ou para o mal, desafiaram o padrão: Alexandre Magno, Calígula, Francisco de Assis, Clara d’Offreducci, Bento de Nurcia, Escolástica, Harlem, Berkeley, John Hopkins, Beatles, Rolling Stones, Madonna, Elvis Presley, Marilyn Monroe, Michael Jackson, Britney Spears, Lady Gaga, Rudi Dutschke, Brigate Rosse, franciscanos, hippies, beatniks, punks... são nomes que revelam períodos. A lista passaria de mil nomes.

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Um dia os jovens precisam revelar-se e, não achando o espaço adequado, resolvem rebelar-se por rebelar-se. Mais ainda, resolvem rebelar-se para revelar-se. Isto é sociológico. Mereceria estudos profundos. Mas vem de longe e com tal força que há um momento na vida do jovem em que os laços de amizade superam os de sangue. É que ele encontra lá fora mais realização do que entre seus familiares. Jesus abordou o fato na história do filho pródigo, que cortou as amarras do lar e foi estabelecer relações lá fora. Por melhores que sejam os pais, há um momento em que o jovem precisa expressar-se, não apenas no círculo familiar, mas num âmbito maior. Está no DNA de todas as gerações.

A coetaneidade, que os gregos chamavam de homélikién, igualdade etária, torna-se mais forte do que a consanguinidade. As duas entram em guerra. Não precisariam, mas entram. Percebe-se isso ainda hoje nos megashows de rock, onde jovens que não conhecem uma palavra sequer de inglês passam dias ouvindo o som de jovens de outras terras e cantando juntos. Bastam-lhes algumas palavras-chave. O resto é homélikién: coetaneidade. Turma da sua idade dizendo coisas que os adultos não dizem. São jovens falando de maneira coletiva, nem importa o quê. Importante é que estão se expressando com a voz, com os trajes, com o corpo, com a música e, não poucas vezes, com erotismo e sensualidade. Rompem barreiras.

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A ilha de Creta educava as crianças para a guerra com combates tipo aghelé e para a música com práticas aghèlai. Os filmes de violência de agora e os megaespetáculos musicais são as propostas do nosso tempo, semelhantes às da ilha de Creta, para ocupar nossos jovens e prepará-los para a competição da vida. Para a violência, com os filmes de violência; para a música e as artes, com os grandes espetáculos de canção.

A corrida, a beleza, o cultivo do físico, a seminudez de ontem lembram as fitness schools de hoje e a seminudez de hoje. Se na antiga Grécia adestrar o corpo dos jovens era uma preocupação para um povo guerreiro, hoje, o enfoque é outro: visa agradar e vender produtos típicos de uma era consumista, mas o corpo continua no centro da nossa cultura, agora mais como estética do que como ética.

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Entre os antigos, não havendo a preocupação com a guerra, havia a dança lasciva, como a de Fauno, em que os lupercos imitavam os movimentos sexuais promíscuos. Era a introdução precoce dos jovens à sexualidade. Hoje em dia, as danças de grupos musicais de sucesso, com forte acento na sensualidade, na promiscuidade, moldam comportamentos. Trajes exíguos, sugestão de coito, mostram que ser jovem hoje não difere muito do tempo dos gregos e romanos.

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Cinco textos mostram as mudanças destes últimos sessenta anos. Um é de Bob Dylan, ainda jovem, numa longa canção “The times they are a-changin” – “Os tempos estão mudando”, gritava ele nos anos 1960. O recado era para políticos, comerciantes, industriais, educadores e para os pais:

Rebeldia, rebelião.

Os tempos estão mudando
Vocês adultos não critiquem
o que vocês não compreendem...
Quem até agora foi primeiro
vai ter que aprender a ser último.

O outro é dos jovens cantores brasileiros que nos anos 1960 cantavam que era “proibido proibir”. Um outro cantava: “Não confio em ninguém com mais de trinta anos, ou com mais de trinta vestidos”... E Belchior emendava: “Apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Tentaram, mas não conseguiram. Nos anos 1980, Xuxa cantava com os Menudos: “Não se reprima”.

Mas nem tudo era desafio aos costumes. Os hoje avós ou pais também conheceram Gigliola Cinquetti na Itália dos anos 1960, que ainda cantava a menina cristã que sonhava casar virgem: “Non ho l’etá per amarti”.

Não tenho idade para te amar e para sair sozinha com você.
Se você quiser esperar-me,
tudo bem, mas agora não insista.
Deixe que eu viva um amor romântico na igreja.
Espere até aquele dia...
Mas agora, não.

Quase na mesma época, contudo, no Brasil, Rita Lee desafiava a moral católica vigente, propondo em canção famosa que andou em muitas bocas de jovens: “me bota de quatro no ato...”.

Rebeldia, desafio.

Nos mesmos dias eu, também jovem, com menos de 30 anos, escrevi uma canção que voltou a ser cantada recentemente na preparação da JMJ no Rio de Janeiro em 2013:

Um mundo ferido e cansado de um triste passado de guerras sem fim, tem medo da bomba que fez, e da fé que desfez, mas aponta pra mim. No peito eu levo uma cruz, no meu coração o que disse Jesus.

Havia, portanto, desafio e perplexidade; havia os que empunhavam guitarras para modificar o mundo e os que empunhavam metralhadoras; havia os raivosos e os revoltados, mas não raivosos; havia os contra e os a favor; havia os religiosos e os irreligiosos e irreverentes, como hoje. Com os Beatles, alguns cantavam um hino disfarçado ao LSD, “Lucy in the Sky with Diamonds”. Chegaram a se declarar mais famosos que Jesus Cristo. Seu nome andava em mais bocas do que o nome de Jesus. Só que as metralhadoras de ontem, que defendiam a causa política, que depois perderam, foram hoje substituídas por revólveres de quem assalta, levados pela droga ou levados pela vida mais rápida, mais urgente. E tiram a paz de conjuntos habitacionais, prédios, condomínios. Também estão armados, só que não é mais ideologia; é a pressa de viver e a pressa de morrer.

Havia e ainda há droga no caminho deles, da mais leve à mais pesada. Crise espiritual, crise de valores, crise de identidade, crise de situar-se. Do protesto muitos passaram ao gesto e à tarefa de criar o mundo que gostariam de ter ganhado de presente. Mas fizeram coisas boas. Os atuais notebooks nasceram no fundo de uma garagem, criados por dois jovens de menos de 22 anos. Eles deram emprego, com seu pequeno aparelhinho de fundo de garagem, para seguramente um bilhão de pessoas, porque, de certa forma, propiciaram a era digital. Jovens comandam redes sociais hoje, quem mais entende da era digital são eles. Há toda uma geração “www” que fala com os dedos em suas teclas. As palavras talvez não sejam ágeis, mas os dedos são. Há sinais de construção no horizonte.

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Crises, cruzes, luzes acompanharam os jovens de ontem e acompanham os de hoje. Não são as mesmíssimas cruzes daqueles anos, mas algumas se aprofundaram e chamam-se cocaína, crack, abandono, ausências. Só que o sagrado e o profano continuam, não dá para viver sem eles. Eles sempre desestabilizaram. Diante do aqui e do possível depois nem todos os humanos se definem. Na juventude, menos ainda. Falta espiritualidade nas escolas, nas famílias e na mídia. E em alguns casos, a espiritualidade vem com carga excessiva, que também gera graves desvios psicológicos porque os submete a comportamentos e opções para os quais não estão maduros. Tão ruim quando uma ideologia de violência é uma religião alienante.

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Sobre os jovens disseram os últimos papas e bispos:

A Igreja enfrenta o desafio de evangelizar uma geração diferente de todas as gerações anteriores. Trata-se de uma geração formada pela imagem, acostumada com estímulos constantes para manter a sua atenção, para quem o sentir é mais importante do que o pensar, que às vezes tem um eu muito fragilizado, com aversão a compromissos de longo prazo; juventude aberta à dimensão espiritual da vida, mas que frequentemente rejeita a religião institucionalizada (CNBB, Documento 85, n. 134).

Tateando em busca de respostas, em muitas Igrejas surgem novos pregadores que, para chegar até os jovens, não hesitam em adotar o sensacional e o espetacular, a linguagem de palco tão a gosto da juventude. É claro que é bom, tirados os exageros é por aí que se vai. Mas tem de haver também uma linguagem do altar que, tirados os exageros, é por aí também que se vai. Há novos pregadores que às vezes deixam de lado os princípios da sã psicologia, dando aos jovens também uma religião imediatista, não só na Igreja Católica, mas nas mais diversas Igrejas. Uma religião cheia de promessas, voltada para conquistas pessoais, para vantagens espirituais e para o sucesso a curto prazo. A oração e o dízimo são supervalorizados e a oferta de cura e libertação com hora marcada dominam a mídia religiosa. São milhões os jovens que mudam de fé, atraídos pelas promessas de sucesso, de chamados especiais do céu, de realização imediata pela fé. Já não se sabe se é Cristianismo ou imediatismo; se é Cristianismo ou igrejismo. Não há uma catequese progressiva. Há um encantamento, que nem sempre é acompanhado de engajamento.

Entre cruzes e luzes, eles vivem suas crises e com eles toda uma sociedade que lhes oferece muito mais a festa do que o compromisso. São muito mais motivados a ser do que a fazer os outros felizes. As maiores vítimas do crasso individualismo dos nossos dias e da mentalidade dos primeiros lugares em troca de alguma adesão são eles, os jovens.

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Foi e é esta uma das razões pela qual a cruz peregrina foi proposta e tem sido vivida no Brasil, motivada pela Jornada Mundial da Juventude de 2013. Nós, católicos, que somos cerca de 70% da população, queremos que a cruz nos ombros e no peito simbolize responsabilidade e entusiasmo. Ao passar pelo país nos ombros da juventude, esta cruz deve lembrar as crises, as cruzes e as luzes de vinte séculos de catolicismo. E aqui no Brasil, deve lembrar os cinco séculos desde a primeira cruz aqui fincada, no que se chamou Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz e finalmente Brasil, em referência a um tipo de madeira afogueada, com espinhos visíveis, hoje cada dia mais rara.

Que o Brasil, que quase não planta mais a árvore pau-brasil, não se transforme num país cristão que quase não se lembra mais do Cristo. Mudou o nome de Santa Cruz e de Vera Cruz; esperemos que não jogue fora a cruz nem a imponha demais sobre os ombros dos sofredores. Vai depender do que os jovens de agora ouvirem e fizerem. Podem escolher entre serem crucificadores ou descrucificadores. Duas palavrinhas que parecem pequenas, trocadilhos, mas dizem muito. Vai depender da catequese sólida e sem sensacionalismo, de uma catequese do pensar e do sentir e não apenas do sentir, vai depender do grau de alteridade que possamos lhes passar. Porque só tem autoridade quem tem alteridade.

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Que nunca mais voltemos à sociedade na qual se falava mais dos jovens do que se permitia que falassem. Agora, que estão falando, cantando e digitalizando suas opiniões, cabe à Igreja dar aos jovens o conteúdo suficiente para que saibam falar como cristãos, o mínimo do mínimo para que possam proclamar-se seguidores de Jesus, católicos e discípulos daquele que disse ser a luz do mundo e queria que seus seguidores também o fossem.

A Jornada Mundial da Juventude é esta gigantesca tentativa de levar nossos jovens a saberem administrar suas crises, suas cruzes e também suas luzes. A imensa maioria deles sofre de impaciência histórica por um futuro que parece que nunca chega. Mas esta mesma imensa maioria tem suficientes sonhos e luzes para fazer com que este mundo tão sonhado aconteça mais depressa. Que, mais do que seguidores, façam bom uso dos seus talentos, dos seus sonhos, dos seus 18, 20 ou 25 anos e se tornem líderes, pensadores. E se envolvam no social, na dor humana, na política, na ajuda aos outros, porque é o único jeito de ir para o céu e de criar aqui um novo reino. De todos os aprendizados, que eles privilegiem o da sociedade mais justa, o do reino de justiça e de paz, o da nação solidária que Jesus chamou de Reino de Deus!

Sonhar nunca é demais. Refletir é mais do que necessário.

Sonhemos e reflitamos.

Amém.

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