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Não há Cristo sem cruz
A iraniana Alma Sepehr escapou com vida do terremoto que assolou o Irã no fim de dezembro de 2003, mas perdeu vinte e um parentes, entre eles o marido, uma filha e vários irmãos. Sua perplexidade se resumiu no desabafo: “Eu fui uma boa islâmica, rezei para Allah todos os dias. Não sei a razão pela qual tudo isso me aconteceu”.
Edir Macedo, idealizador e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, quando um templo caiu sobre os fiéis que oravam em Osasco, exclamou diante das câmeras da sua televisão: “Por que meu Deus, por quê? Eles estavam orando...”.
O salmista pergunta por que Deus o esqueceu (cf. Sl 22,1). Jesus, ao morrer na cruz, repete este Salmo (cf. Mt 27,46). Jesus devia saber o porquê. Então por que disseram que ele orou daquela forma (cf. Mt 26,2; Lc 24,7)? Moisés, Maomé, os fundadores de religiões e os pregadores de todos os caminhos e ângulos provavelmente não terão resposta clara nem para Alma Sepehr, nem para Edir Macedo, nem para qualquer pessoa sofrida que vê seus parentes ou fiéis morrerem soterrados. A morte é a mais exigente passagem da vida e nem sempre é passagem suave. Aí, então, nos perguntamos e perguntamos a Deus: “Eu orei tanto e eles também oraram. Não podiam ter sido poupados, ou ao menos ter morrido de maneira mais suave?”.
E não há respostas senão a da fé, porque Jesus também não morreu de maneira suave. Se dizemos que ele é o Filho de Deus que se fez humano, então a pergunta fica ainda mais gritante. A gente... tudo bem, mas ele? Precisava ser daquele jeito? Jesus disse que precisava (cf. Lc 24,7). O mistério aumenta! Jesus repele a tentação de caminhos fáceis (cf. Mt 4,10). A Pedro, que tenta dissuadi-lo dos riscos a correr, chama de tentador e satanás (cf. Mt 16,24). A seguir, avisa que quem quer segui-lo deve assumir a cruz e a dor.
Nem os que pregam o fim do sofrimento e o fim dos problemas em seus programas de rádio e televisão sabem explicar a dor, a não ser à luz da fé. Na hora em que a dor nos atinge, fazemos o que fez Jesus: perguntamos. Não há nada de errado em querer saber o porquê. Mostra que estamos vivos e raciocinando. Jesus queria isso dos apóstolos (cf. Jo 16,17.23), mas diz que chegará o dia em que não pediremos nem perguntaremos, porque teremos entendido o Reino.
Não há cristianismo sem dor, nem Cristo sem cruz. Se queremos anunciar um Cristo glorioso e vitorioso, e semear a teologia dos vencedores em Cristo, convém não iludir os fiéis. A dor não acabará em nossa casa, só porque oramos para Allah ou aceitamos o Cristo. Nem ele escapou da dor universal.
Uma coisa é ensinar a carregar a cruz. Outra é dizer que não haverá cruz. Isso Jesus nunca prometeu, nem as Igrejas podem prometer. Se o fizerem, será marketing desenhado para conseguir mais adeptos que, depois, descobrirão a verdade. Não há Cristo sem cruz! Valer a pena, vale, mas Jesus nunca disse que seria fácil!
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