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Meu jovem amigo ateu
Seis meses sem vê-lo. Melito me disse, preocupado com minha reação, que não era mais católico. Também não era evangélico. Simplesmente deixara de ser crente. Não acreditava mais em Deus.
Perguntei-lhe se poderia perguntar por quê. Retrucou perguntando se eu não ficaria decepcionado com ele. Expliquei-lhe que não tinha esse direito. Coisas da alma são da pessoa e não dos amigos ou parentes. Por mais amigo que eu fosse, há segredos que são só dele. Não seria por saber que ele deixara de crer em Deus e em Jesus que perderia minha amizade. Tenho amigos ateus e sei dos seus valores, das suas incoerências. Eles são meus amigos e sabem das minhas incoerências e contravalores...
Disse-me que suas leituras e reflexões o tinham levado à conclusão de que o Deus que ele conhecia e como conhecia não existe. Mostrou-me um livro de Richard Dawkins, famoso escritor ateu da atualidade. Falei-lhe do livro de Karen Armstrong, famosa escritora de formação cristã, tão culta quando Dawkins. Disse que leria. Eu já tinha lido Dawkins. Mas não fora pelo livro nem pelo autor que ele mudara de opinião. Eram coisas de seu sentir e do querer.
Continuamos amigos. De vez em quando ele me telefona. Pediu-me que respeite sua busca e não lhe fale mais de Jesus nem de Deus. Prometi que não entraria no assunto desnecessariamente, mas que não exigisse de mim que me calasse a respeito do que creio. Falarei de Deus quando e quantas vezes sentir que devo, mas ele pode ter certeza de que não empurrarei Deus pela sua garganta. Não sou nem nunca fui proselitista. Não estou procurando nem adeptos, nem discípulos meus. Mas assim como ele falou de seus autores ateus, que conheço todos, tenho o direito de lhe falar de autores crentes. Concordou. Assim, quando nos vemos não falamos apenas do tempo e do vento ou do Flamengo. Quando quer, ele fala de sua descrença e eu da minha crença.
O que ele não sabe é que tenho mais de trinta amigos como ele. Não creio que nenhum deles possa dizer que os desrespeitei por não crerem como creio.
Sei discordar sem cair na discórdia. E se ele me desrespeitasse eu me manteria sereno. Talvez ele não tenha culpa de não crer. Talvez eu não tenha culpa de crer. Talvez eu tenha méritos. Talvez ele os tenha. O tempo dirá. Mas Melito e sua jovem esposa são meus amigos. Ela “meio que crê”... Ele não crê, com exclamação e ponto final. E eu creio com interrogações. Juntos formamos um trio de %!?. E talvez seja essa a realidade de Deus no mundo. Diante dele o mundo está cheio de %!?+/–>X... Eles nunca o viram e eu também nunca o vi. Ele acha que Deus não existe, ela acha que talvez ele exista. E eu acho que Deus existe. Mas nós três existimos e não temos outra escolha senão administrar nossa amizade, mesmo que não sejamos amigos de fé. E daí? Somos amigos de respeito!
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