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Pobre Mãe Terra
Curvada e mirrada, doente e sem muitas esperanças, com 52 anos e 44 quilos, dona Alice gerara onze filhos. Infelizmente, filhos malcriados. A cidade inteira sabia. Sugaram todo o leite e todos os recursos da mãe, que acabou abandonada pelo seu marido, em troca de outra mais atraente e mais jovem, quando a culpa era toda dele.
E ele sabia disso. Desfrutou-a enquanto pode e, quando ela emagreceu de tanto desfrute, ele teve o descaramento de abandoná-la por uma moça mais jovem dizendo que ela se cuidava mais. Deixou-a por estar mirrada e seca, quando tinha sido ele, o marido egoísta e aproveitador, que a reduzira àquele estado.
Dócil, quieta, incapaz de reagir, ela aceitava tudo do marido e dos filhos, que cresceram malcriados como o esposo. “Mãe me dá”, “Mãe eu quero”, “Mãe eu exijo”, “Mãe eu tenho o direito”, “Mãe isso”, “Mãe aquilo”. Desfrutaram e abusaram da pobre mãe o quanto puderam e, agora, lá estava a dona Alice, com 44 quilos, andando pela cidade como um esqueleto. Tinha sido uma moça bonita na juventude e fora reduzida a esse triste espetáculo. O marido e os filhos tiraram dela tudo o que ela podia dar e nunca lhe deram nada: nem vestido, nem presente de aniversário, absolutamente nada. Nunca repuseram o que dela tiraram. Mal-amada, ela enlouqueceu. E ainda havia quem insistisse que era tudo culpa dela.
Um filósofo da cidade, conhecido por suas tiradas cheias de sabedoria, um dia, falando a respeito dela, disse: “Dona Alice é uma triste maquete do planeta Terra. Deveríamos chamá-la de Mãe Terra, porque o que os filhos fizeram a ela nós estamos fazendo ao planeta. Estamos explorando e tirando tudo o que a Terra pode nos dar, e depois vamos abandoná-la à sua própria sorte, porque já não precisamos mais dela. Daqui a alguns séculos vai acontecer com o planeta Terra tudo o que aconteceu com dona Alice. De tanta exploração, ela vai acabar enlouquecendo. A loucura já começou: a Terra já está com todos os sintomas de um planeta maluco. Mas é por causa do que seus filhos fizeram com ela”.
A culpa é das quatro últimas gerações. Em apenas um século destruímos mais do que nossos antepassados em milhões de anos.
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