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Implicou com a minha cruz
Implicou com meu símbolo que era uma cruz. Não era nenhum símbolo pagão, porque São Paulo diz que a cruz só escandaliza os inimigos da cruz de Cristo e os pagãos. De fato, ele diz que a linguagem da cruz só é loucura para os perdidos. Para nós é poder de Deus (cf. 1Cor 1,18). Falou em lágrimas sobre os que se mostravam inimigos da cruz de Cristo (cf. Fl 3,18). Ela só deveria ser vergonha para quem não crê em Cristo. Esses nunca deveriam usá-la.
Mas o rapaz, que dizia crer em Cristo, implicou com a cruz no meu peito.
Jesus mandou cada qual levar a própria cruz e segui-lo (cf. Mt 10,38). Mandou também levar a cruz dos outros (cf. Mt 25,40). É claro que não falava de cruz no peito. Falava de dor humana. Mas não proibiu sinais. Ele mesmo deixou que tocassem no seu manto e operou milagres tocando nos enfermos. Também se deixava tocar pelo povo (cf. Mt 9,20). Então os sinais ajudam! Milhões, como eu, carregam no peito o sinal da sua dor por nós. Um sinal que nos lembra de nossa missão de “descrucificadores” ajuda. E muito! Basta sabermos o que fazer com ele!
Mas o rapaz, entusiasmado com sua nova fé, dono da verdade mais verdadeira, veio na minha direção acusando-me de adorar aquele sinal. Caluniou-me e julgou-me, enquanto eu esperava tranquilo que lavassem meu carro. Implicou com o sinal pelo qual eu recordo a maneira como Jesus morreu por mim. Não me deixou explicar que eu o carrego por gratidão. Achou que eu não era capaz de saber a diferença. Tenho setenta anos de batizado, cinquenta de religioso, quarenta e cinco de sacerdote e catequista cristão, e ele, com não mais de dois anos de Igreja nova, quis me ensinar como se adora Jesus. Os livros que li e escrevi nada significaram. Nunca me vira antes, mas tinha certeza de que conhecia Jesus e eu não!
Carrego os dois: o livro onde estão as palavras do Cristo e a cruz que lembra como ele derramou seu sangue. Livro e cruz são lembranças do que ele fez por nós. Ele pode e eu não? Onde está a passagem que permite um levar o livro debaixo do braço e proíbe o outro de levar o sinal da cruz no peito? Seu pregador não lhe ensinou estas coisas?
O moço me chamou de idólatra porque carrego, num crucifixo, a lembrança do martírio de Jesus. É um objeto de aço e madeira. Mas a Bíblia também é um objeto. Por que será que as mil folhas de papel impresso dele, que narram a morte de Jesus, são santas e ele as pode carregar com respeito, e eu não posso usar a cruz que também lembra essa morte? A arca da aliança não era Javé, mas ai de quem a desrespeitasse (cf. 1Cr 13,10). Por que razão me caluniou, se eu não adoro nem meu livro nem minha cruz? Por que me julgou se não tem esse direito (cf. Mt 7,1)? Que Igreja é essa que ensina uma pessoa a julgar o outro crente em Cristo só porque carrega no peito, agradecido, o sinal do seu amor?
Considero-me um católico ecumênico. Louvo a Jesus e agradeço pelos santos que formou na nossa e nas outras Igrejas. Louvo a Deus pela luz que ele difunde sobre todos os seus filhos sinceros. Mas não acho que devo me calar quando alguém com dois anos de “conversão” se acha no direito de ensinar a pureza da fé a quem há meio século tenta vivê-la. Minha Bíblia me diz que há momentos em que não dá para ficar quieto. Jesus não ficou (cf. Mt 23,23)!
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