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    • Juventude: crises, cruzes e luzes – José Fernandes de Oliveira
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Recado a um jovem pregador que não lê

Caro Josh,

Recebi sua carta meio provocadora e irada sobre inspiração e unção. Discorda de minha insistência no estudo da fé para quem deseja pregá-la.

Na carta você sustenta que teologia e cultura livresca não estão com nada e cita o exemplo de Pedro ou dos apóstolos, que nem todos sabiam ler. E seleciona o texto:

Naquele tempo, respondendo, Jesus, disse: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).

Aproveito para lhe citar outro texto:

Cristo habite pela fé nos vossos corações, a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus (Ef 3,17-20).

Apenas a oração e o testemunho de vida não trazem essa profundidade. Deve ser por isso que a Igreja canonizou centenas de santos que passaram a vida estudando o mistério do Cristo.

Você se esqueceu de citar Paulo, Irineu, Atanásio, Jerônimo, Agostinho, Tomás de Aquino, Boaventura, Duns Scotus, Alberto Magno, Bento XVI e milhares de pregadores da fé que buscaram seus conhecimentos em livros.

Não sei quem o orienta, mas, quem quer que seja, terá que lhe mostrar que estudar Jesus também é unção, tanto quanto orar em público e anunciar suas revelações.

Falo por mim que tive sua idade e, na época, já pregava a outros jovens. Teria sido mais fácil eu ficar com o que aprendi nos catecismos e, pela vida inteira, pregar aquelas mesmas ideias, acrescentadas com o que eu achasse que o Espírito Santo me mandasse dizer. Mesmice também é pregação, mas deixa a desejar.

É possível fritar o mesmo bolinho e fazer os mesmos pastéis por trinta ou quarenta anos. Sempre haverá quem os queira. Mas, quando o freguês pedir algo mais, como ficará aquela cozinheira que não aprendeu outra coisa além de fritar ovo, cozinhar arroz e feijão e fritar um bife?

É fácil pregar a fé a partir do testemunho pessoal. Basta que os outros acreditem e nos deem ouvidos. Pregar a fé a partir da experiência dos outros pensadores da Igreja de todos os tempos, com as dúvidas e as perguntas difíceis que muitos fazem e fizeram, já é bem mais difícil.

Crer com a ajuda de um outro supõe a coragem de deixar que o outro nos fale e a paciência de ler seus livros de duzentas, quinhentas ou mil e quinhentas páginas. Estudar os outros cansa, Josh. É bem mais confortável repetir todos os dias as mesmas frases e as mesmas ideias. É o que muitos cristãos fazem, sem se dar conta de que se renderam à mesmice. De santa ela tem pouco. Religião supõe esforço e aprendizado. O Documento de Aparecida acentua que somos discípulos e missionários.

Fosse você, eu abriria mais livros frutos de anos de estudo da fé e confiaria menos em testemunhos de quem apenas acabou de encontrar Jesus! Não é a Bíblia que manda estudar e cantar a Deus um canto novo e diferente e, além disso, com habilidade? (Sl 33,3; 98,1; Is 42,10; Ap 5,9; 14,3).

Resposta dada, amizade preservada, assim espero!

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