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Somos todos imperfeitos
Só Deus é perfeito!
Quando me tornei religioso, tinha uma escolha: ou pregaria a minha fé segundo a minha Igreja, ou pregaria a minha Igreja cegamente, estivesse ela certa ou errada.
Escolhi pregar a fé segundo a minha Igreja. Quando discordo de alguns pontos da minha Igreja, guardo a discordância para mim e tomo o cuidado de ver se, de repente, o erro não é meu ou do meu grupo. E, mesmo discordando naquele ponto, ensino o que a Igreja ensina. Se quisesse pregar apenas minhas ideias e apenas aquilo que aceito, eu fundaria a minha Igreja, que foi o que muitos fizeram, dizendo que era a verdadeira Igreja do Cristo. Todos os dias aparece mais uma em alguma esquina do mundo. Como não tenho esta pretensão, prego o que a Igreja Católica de vinte séculos me manda pregar. Prefiro essa sabedoria. A minha certamente não chega a um milímetro diante de tudo o que a Igreja acumulou de conhecimentos.
Se for incoerência, me chame de incoerente! Sei que os crentes em Deus não estavam e não estão certos em tudo. Por mais que Deus nos inspire, somos humanos e às vezes tomamos decisões erradas. Deus inspirava Moisés e Elias, mas quando Moisés mandou os filhos de Levi matar três mil idólatras (cf. Ex 32,28) e Elias mandou degolar 450 sacerdotes de Baal (cf. 1Rs 18,40) certamente não foi Deus quem os inspirou.
Quem comandava a Igreja não estava certo no caso Galileu Galilei. Foi condenado por ensinar que a Terra girava ao redor do Sol. Por mais atrevido que ele fosse, a questão era o que ele ensinava. Pareceu errado naqueles dias para quem seguia a Bíblia ao pé da letra. João Paulo II pediu perdão por aquele erro de séculos atrás.
Autoridades da Igreja erraram quando guerrearam, mandaram matar e prejudicaram muita gente de outras religiões. Também os pregadores de outras religiões erraram ao mandar matar os de outra fé. O Papa também pediu perdão por esses erros do passado. Leiamos a Orientale Lumen e a Ut Unum Sint para perceber o quanto para o Papa é importante que a Igreja reconheça seus erros passados e não mais os repita.
Isso não quer dizer que pediremos desculpas por tudo o que outras Igrejas acham que foi ou está errado. Admitimos que houve erro em algumas atitudes, mas não em tudo. Eles que peçam as desculpas deles e nós, as nossas pelos erros cometidos lá e cá. A coisa mais cruel e mais descarada é uma Igreja mostrar os pecados da outra e esconder os próprios. Nem nós nem eles somos Igrejas perfeitas. Igrejas são feitas de gente, e gente costuma acertar e errar. Jesus ensinou muita coisa que seus discípulos ali mesmo na sua frente entenderam mal (cf. Mt 16,9; Mc 6,52). Minha mãe também não estava certa em tudo. Nem por isso deixei de amá-la e considerá-la santa.
Não quero ser membro de uma Igreja que jamais errou. Esta igreja não existe nem existirá. Quero ser membro honesto de uma Igreja honesta. Até porque igrejas perfeitas não existem. Por mais porta-vozes que desejem ser de Deus, as Igrejas não são deusas. Há erro dentro delas. Aquela que se proclamar perfeita já cometeu uma inverdade. Uma coisa é tender à perfeição e outra, dizer que é perfeita.
Só Deus é perfeito! Nós, que o anunciamos, não somos. Não confundamos o andor com a imagem, nem a imagem com o santo! No Credo dizemos crer na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. Não dizemos que nossa Igreja é perfeita. Nem poderíamos. Quando Jesus propôs que fossemos perfeitos como o Pai celestial (cf. Mt 5,48), não estava propondo que fôssemos perfeitos da mesma forma e na mesma medida em que Deus é perfeito. Jamais o conseguiríamos. O que ele propôs é que buscássemos a perfeição. Ele sabe o que há no coração do homem (cf. Jo 2,25). É por isso que nos oferece a sua graça. É ela que nos aperfeiçoa! É a ela que devemos buscar, mesmo que nunca cheguemos lá (cf. Gl 2,17; 1Cor 13,10; 2Cor 13,11).
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