A Bíblia como Teologia

A unidade do quádruplo sentido é uma questão de extrema importância. Pois as Escrituras não são apenas matéria-prima para a teologia; é teologia – normativa e pura. Como disse o Cardeal Joseph Ratzinger: “Os teólogos normativos são os autores da Sagrada Escritura”. 12

A própria Escritura é a fonte e o ápice da teologia. Portanto, quando interpretamos a Bíblia, não estamos apenas colhendo amostras para análise laboratorial. Estamos recriando os argumentos dos escritores inspirados para encontrar seus significados, modelos, suposições e paradigmas. Se quisermos pensar os pensamentos de Deus depois Dele, devemos pensar os pensamentos de Mateus, Marcos, Lucas e João depois deles.

Novamente, observo que esta reverência pelo caráter sagrado – e teológico – das Escrituras é rara hoje. No entanto, é algo que devemos recuperar se quisermos exercer tanto a fé como a razão, unificadas numa visão cristã coerente.

Este não é um apelo ao abandono da crítica histórica. Como ferramenta, é inestimável. Ainda assim, precisamos de reconhecer a sua utilidade específica e utilizá-la com sabedoria e consciência. Uma faca pode ser usada para curar, como numa cirurgia, ou para matar, como numa emboscada. A crítica histórica é o mesmo tipo de ferramenta e pode ser usada para o bem com a mesma certeza que pode ser abusada.

Notavelmente, existem paralelos perturbadores entre “exclusivistas” histórico-críticos e fundamentalistas. Eles também se concentram apenas no sentido literal das Escrituras. Para os fundamentalistas, a sola scriptura é a regra suprema, oposta à autoridade e à tradição; Os fundamentalistas também exaltam a interpretação privada dos textos, oposta a qualquer mediação eclesial; Os fundamentalistas rejeitam os sentidos espirituais; Os fundamentalistas são caracterizados pelo desdém pela filosofia; e os fundamentalistas dirigem-se frequentemente aos estrangeiros em tom áspero e condescendente. Todos esses atributos podem ser aplicados, embora com algumas distinções, a muitos críticos históricos.