Percepção extrasensorial

Para os estudiosos da Bíblia na tradição católica, esta interdependência entre fé e razão é mais evidente na tradição do sentido quádruplo – isto é, a Escritura tem um sentido literal que significa uma realidade histórica. Essa realidade histórica revela então três sentidos espirituais, tradicionalmente identificados como o sentido alegórico, o sentido tropológico (ou moral) e o sentido anagógico (cf. Catecismo , n. 115). Segundo a antiga tradição da Igreja, estes quatro sentidos constituem o significado integral da Escritura.

O sentido literal concentra-se nos eventos históricos da Bíblia. Discernir o sentido literal exige do estudioso o uso intensivo da razão (juntamente com a fé), ao aplicar as disciplinas da história, da linguística, da geografia e das ciências, a fim de apurar o significado de um determinado texto bíblico.

Os outros três sentidos requerem fé, mas estes também empregam a razão. O estudioso da Bíblia só pode proceder neste sentido espiritual se acreditar que existe uma unidade sobrenatural entre o Antigo e o Novo Testamento; somente se ele acreditar que toda a Escritura é inspirada por Deus, o Espírito Santo; e somente se ele acreditar que toda a Escritura tem como objetivo levar seus leitores ao seu fim final, que é o céu.

Todos os quatro sentidos juntos nos dão o que o Papa João Paulo II chama de “sentido pleno” das Escrituras, envolvendo a fé e a razão no apoio mútuo (cf. FR , 55). O que se aplica à teologia geralmente também se aplica à exegese: quando um exegeta enfatiza a fé ou a razão em detrimento da outra, ele erra. Enfatizando demais a fé, ele cai no fideísmo; enfatizando demais a razão, ele cai no racionalismo.

O Papa João Paulo II conclui: “Não se deve subestimar o perigo inerente a procurar derivar a verdade da Sagrada Escritura a partir do uso de um único método, ignorando a necessidade de uma exegese mais abrangente que permita ao exegeta, juntamente com toda a Igreja, chegar ao sentido pleno dos textos [bíblicos]” ( FR , 55).