14:13 ἀνεχώϱησεν ἐϰεῖθεν ἐν πλοίῳ

εἰς ἔϱημον τόπον ϰατ᾿ ἰδίαν

ele retirou-se de lá em um barco
para um lugar solitário à parte

O CONTRASTE ENTRE as motivações e os sentimentos dos respectivos anfitriões é ainda mais impressionante. Herodes, por um lado, está dividido em um grande número de sentimentos e instintos conflitantes: a princípio sua libido se delicia com a dança de uma jovem, tanto que ele jura destemperadamente dar-lhe tudo o que ela pedir; ele fica então angustiado com o que se sente obrigado a fazer; finalmente, ele reprime todas as dúvidas e impõe seu poder dando a ordem letal.

Em contraste com esta “casa dividida contra si mesma”, Jesus exibe uma estrutura e motivação psíquica totalmente unificada e simples: tudo o que ele faz flui da ἐσπλαγχνίσθη de 14:13-14. Os dois versículos são de grande importância cristológica: “Ele retirou-se [ἀνεχώϱησεν] . . . para um lugar deserto [ἔϱημον] sozinho. . . . Saindo [ἐξελθών], ele viu [εἶδεν] a vasta multidão e seu coração ficou cheio de pena [ἐσπλαγχνίσθη] deles, e ele curou [ἐθεϱάπευσεν] seus doentes.” É a mesma coisa que o Filho de Deus veja a miséria e seja movido pela compaixão, imediatamente seguida pela ação. O que parece ser um afastamento por medo de sua vida acaba sendo a maneira de Jesus criar um novo local de comunhão no deserto. A partir do ódio e da perseguição, Deus cria compaixão e comunidade.

Os cinco verbos usados no texto para descrever as atitudes e ações de Jesus são mais eficazes para traçar para nós a sequência exemplar de momentos da vida cristã: a anachôresis inicial, ou fuga para a solidão “eremítica” para intensa comunhão com Deus, resulta em uma movimento complementar de retorno à associação humana e à percepção em primeira mão das necessidades dos semelhantes. A oração, em outras palavras, produz missão e uma comunhão que se origina na visão. A contemplação do Pai, impossível sem um movimento que primeiro conduza para dentro e separe tudo o que não é Deus, produz necessariamente frutos na contemplação dos irmãos: passamos a ver os outros como Deus os vê.

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