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13:19b ἔϱχεται ὁ πονηϱὸς ϰαὶ ἁϱπάζει
τὸ ἐσπαϱμένον ἐν τῇ ϰαϱδίᾳ αὐτοῦ
o maligno vem e arrebata
o que foi semeado em seu coração
EM VEZ DE SER um solo rico e receptivo à palavra do Reino - limpo de pedras, sulcado uniformemente, virginal na expectativa da semente divina - meu coração pode tornar-se uma via promíscua, endurecida por cada transeunte, servindo apenas como um lugar transitório e que não oferece terreno frutífero para crescimento. Tal caminho, pela sua própria suavidade, é um coração incapaz de “compreender”, isto é, de acolher em si qualquer semente e de se tornar um com ela. Aqui nada pode ser envolvido, nada pode permanecer. Esta dureza suave, aliás, esta incapacidade de compreender, tem uma causa clara: o facto de toda palavra ser considerada aceitável, exceto a Palavra de Deus: “Por que não entendeis o que eu digo? É porque não suportais ouvir a minha palavra” (Jo 8,43).
É uma lei necessária da natureza: o coração que se separa da fonte da sua vida sofrerá de esclerose terminal. Palavras de nutrição divina caem nessa superfície lunar e ficam ali sem serem saboreadas e não digeridas, em si mesmas nós ricos tendendo à fruição, mas tornados estéreis pela impermeabilidade do solo. Tal coração é unidimensional, totalmente superficial e sem profundidade, atingido por mil estímulos passageiros e ainda assim não alterado substancialmente por nenhum deles.
Quão terrível é quando um coração não conhece a interioridade, quando não consegue recolher-se em si mesmo e sentir-se em casa, descobrindo o seu próprio vazio sagrado como capacidade de acolher a Palavra, quando todos os seus impulsos correm para fora, longe do centro, e o fazem viver cada momento de sua existência imodestamente, exposto ao olhar público. Como poderia tal coração tornar-se recipiente de quaisquer “mistérios” quando não consegue comungar nem consigo mesmo? E assim permite que a semente nele semeada fique ali sem ser reclamada e desprotegida, pois este coração achatado não tem onde se esconder e ponderar, como Maria fez, as palavras preciosas – a Palavra divina – com as quais Deus o agraciou. Há outro, porém, que nunca está muito longe, o Sinistro que de fato possui interioridade; mas é uma interioridade maligna que abriga um abismo de escuridão. Neste poço dentro de si, o Maligno lança as sementes celestiais da luz e as consome com seu ódio. Tal é a malícia do sombrio corvo cósmico cuja fome milenar o faz mergulhar para sempre sobre o campo vulnerável da humanidade, para arrebatar o que foi destinado à nutrição do coração humano. E, onde Cristo trabalhou amorosamente para depositar sementes de vida, o Demônio saqueador mergulha do nada e rouba seu saque. O acontecimento não é banal, pois agora não há retorno à condição anterior de plácida indiferença, antes do falecimento de Cristo Semeador. Por onde Cristo passou, também passou o seu Adversário e, no lugar das sementes promissoras da Palavra, lançadas sobre a carne do coração, o Maligno deixa uma assinatura gravada com garras e bicos cortantes.
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