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    • Fogo da Misericórdia, Coração da Palavra: Meditações sobre o Evangelho Segundo São Mateus (Volume 2)
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Fire Of Mercy Vol. 2 Heart of the Word

15:6

διὰ τὴν παϱάδοσιν ὑμῶν

por causa da sua tradição você
roubou a palavra de Deus de sua senhoria

JESUS AGORA PRONUNCIA uma acusação devastadora contra os fariseus. Não é suficiente interpretar Jesus como dizendo que eles “anularam” a palavra de Deus, como se tal acusação já não fosse suficientemente terrível. O verbo usado aqui, ἠϰυϱώσατε, tem a raiz kyr- no centro, que prontamente reconheceremos como nos dando Kyrios. A fonte deste grupo de palavras é kyros, que significa “poder ou autoridade suprema” e, portanto, “validade”. Disto deriva então o nosso familiar kyrios, que significa “um senhor ou mestre com poder supremo sobre homens e territórios”. As decisões de tal pessoa falam por si mesmas, pois estão intrinsecamente investidas de autoridade incontestável.

A Septuaginta primeiro aplica o título Kyrios a Deus como um substituto para o tetragrama sagrado, יהוה (YHWH), e assim vemos como o termo grego atribui analogicamente a Deus liberdade soberana, poder e autoridade em um grau infinito. O termo é, então, de especial relevância em conexão com a Lei, como aqui, porque qualquer palavra falada por Deus é automaticamente investida de domínio e jurisdição ilimitados. Quando Jesus, então, diz que os fariseus “ἠϰυϱώσατε a palavra de Deus por causa da sua tradição”, devemos entender com isso que eles roubaram a voz legisladora de Deus no Sinai de sua própria nobreza, que eles tentaram transferir a autoridade divina para si mesmos, tornando-se senhores da palavra divina para manipulá-la para seus próprios fins.

Os fariseus se envolvem nesta operação secreta enquanto elogiam a majestade de Deus da maneira mais tradicional. A citação de Isaías que Jesus agora brande retrata com grande precisão as contradições internas geradas pela hipocrisia dos fariseus. Em primeiro lugar, temos novamente o termo “honrar”, desta vez aplicado ao próprio Deus (“este povo me honra com os lábios”), e isto reforça a inseparabilidade que temos observado de ambos os níveis de decadência moral: “Porque eles me honram apenas com os lábios, assim também honram seu pai e sua mãe”. Então vemos a antítese lábios/coração como um símbolo da desonestidade daqueles que escondem uma situação interior suspeita por trás de piedades externas convencionais. Isto representa a própria ruína do grande Shema', que exigia que os filhos de Israel amassem o seu Deus com toda a mente, coração, força e alma - em outras palavras, tudo o que é interior ao homem.

A única faculdade que os fariseus exercem em relação a Deus é a capacidade de falar, talvez a mais potencialmente enganadora de todas as capacidades do homem. Mas Deus, que penetra facilmente na realidade mais íntima do homem, sabe quando o nosso coração está realmente longe dele, isto é, quando amamos mais os nossos próprios desejos, artifícios e vantagens do que a sua adorável vontade. É uma descoberta preocupante que possuímos esse poder de manter o centro do nosso ser vital, o nosso coração, longe da presença dAquele que por natureza é onipresente. Embora ele não deixe de nos revelar o seu Coração através da sua Palavra, trabalhamos diligentemente para ocultar e distanciar o nosso dele! O ponto crucial da apostasia dos fariseus é, portanto, a sua incapacidade ou falta de vontade de amar, não apenas de amar o próximo com generosidade, mas, mais fundamentalmente, de amar a fonte da sua própria existência: no sentido absoluto, Deus, e no sentido relativo, pais.

Os fariseus destronaram verdadeiramente Deus como Senhor dos seus corações e vidas e reconhecem apenas a autoridade dos seus próprios esquemas intrincados. No entanto, tendo uma mentalidade fortemente religiosa e cultual, a sua própria apostasia deve ser formulada em termos enfaticamente religiosos, uma vez que ninguém deve detectar a falsificação que está a ocorrer nesta transferência radical de autoridade. E assim Deus, pela boca de Isaías e de Cristo, denuncia a farsa nos seguintes termos: “Em vão me adoram, ensinando como doutrinas os preceitos dos homens”.

A adoração a Deus continua a ocorrer no templo e na sinagoga, e a tradição de ensino é a própria razão de ser dos fariseus. E ainda assim, quanto vale tudo isso? Qual é o significado da adoração que não vem do coração? Que utilidade tem Deus para declarações insinceras de fidelidade? “Eles o lisonjearam com a boca; mentiram-lhe com a língua” (Sl 77,36). E qual é o valor de um ensinamento cujo conteúdo não é verdade, mas mera invenção humana? A regra de ouro do professor é que ele não deve ensinar a si mesmo – isto é, os conteúdos e pontos de vista de sua própria pessoa – mas deve servir e ensinar apenas a verdade que lhe foi confiada como simples instrumento. O problema existe em todas as sociedades, e também na Igreja primitiva, como vemos na advertência de Paulo aos Colossenses: “Cuidem para que ninguém faça de vocês uma presa por meio de filosofia e enganos vãos, de acordo com a tradição humana. . . e não segundo Cristo” (2:8).

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